domingo, 9 de agosto de 2009

Relato do Parto



A minha gestação transcorreu bem até 39 semanas e 3 dias.
Engordei 15 kg (mais do que os 12 kg que a médica tinha recomendado, mas tudo bem - já que é pra ganhar quilos de qualquer jeito, se joga! - modo Magali ON).
De manhã fui ao consultório para o exame semanal de rotina e fiquei feliz porque tinha perdido 100g. Porém, minha pressão deu 13 por 9. Estranho, porque o normal para mim é ter 10 por 6 ou 11 por 6.
A médica escutou os batimentos cardíacos e estava 116 bpm. Segundo ela, deveria estar no mínimo 120 e ela mandou eu me internar para realizar mais exames.
Após horas esperando para fazer uma cardiotoco e uma eco e mais algumas horas internada na sala de pré-parto e deitada em decúbito lateral esquerdo (esse termo me perseguiu a gestação toda, pois eu gosto mesmo é de deitar do lado direito), a pressão baixou pra 11 por 7 e os batimentos do bebê subiram pra 140 bpm.
Achei então que estava tudo certo e fiquei esperando a médica me liberar. Tudo o que eu queria era alta e janta...(estava internada em jejum)
Qual não foi a minha surpresa quando a médica veio e disse que a melhor coisa a fazer era interromper a gestação o quanto antes para o episódio de subida de pressão não se repetir e o bebê não sofrer de novo.
Depois de meses me dedicando à academia e me preparando fisicamente pra ter um parto normal, depois de ir ao curso de gestante e saber passo a passo como proceder durante as contrações, depois de tudo o que eu tinha lido pra ter um bom parto normal, depois de me alegrar com o fato de que eu tenho esse quadril enoooorme e que ele ia mostrar sua utilidade finalmente (quadril grande não podia existir só pra atrapalhar na hora de comprar um jeans, né?), enfim, depois de tanta espera por um parto natural, essa notícia caiu feito uma bomba. Nem voltei pra casa, apenas troquei de quarto e fiquei esperando chegar a minha hora.
Tudo o que eu menos queria era cortar sete camadas de pele desnecessariamente. E no fundo eu achei que era desnecessário tudo aquilo. Wind ainda lembrou que poderíamos tentar induzir um parto normal, mas a médica foi irredutível e disse que a cesárea era o melhor a se fazer.
No dia seguinte de manhã a enfermeira foi ao quarto me buscar para fazer a cesárea. Fui chorando pro centro cirúrgico, pensando na frustração de fazer uma cirurgia que eu não queria. A enfermeira perguntou o motivo do choro, se eu estava com medo...e eu falei que não era medo, mas estava chateada por não fazer o parto normal. Ela se virou pra mim, me olhou como se eu fosse um ET e perguntou:
- Você QUER parto normal?
- Sim, quero...
Alguém merece viver em tempos em que o normal passa a ser anormal???
Bom, fui pra sala, já naquele modelito charmosérrimo de hospital, coloquei a touquinha e as meias e fui pra sala onde eu ia entrar na faca...rs
Lá a dra. falou comigo e me apresentou os 2 anestesistas. Uma era a dra. Giza, um amor de pessoa, muito atenciosa. O outro era um brincalhão, não lembro o nome dele, mas tentou manter o clima descontraído na sala.
Sentei pra tomar anestesia, a agulha entortou nas minhas costas e demorou pra fazer efeito...quando conseguiram, me deitaram rapidamente na maca. A essa altura a dra. Giza me pediu pra levantar as pernas, perguntou se eu conseguia levantá-las...
-É claro que consigo - pensei eu.
Doce ilusão. Nada se mexia. O efeito da anestesia foi subindo, subindo, até chegar à altura do estômago. Nessa hora foi horrível, pois senti muita vontade de vomitar, passei muito mal. Mas como eu estava em jejum há 12 horas, não tinha O QUE vomitar. Um tempo depois o mal estar passou e Wind entrou.
Foi tudo muito rápido. Perguntaram se eu estava ouvindo algum barulho, pois já estavam rompendo a bolsa. O barulho era estranhíssimo,parecia uma sacola plástica sendo cortada com estilete, mas era um barulho mais seco, que lembrava papel. Depois desse barulho veio o chorinho mais fofo do mundo.
Eu chorei sem nem ter visto nada. Aquele choro era o sinal que tudo tinha chegado ao fim. Logo alguém da equipe passou rapidamente com a Su e pudemos vê-la. Ela olhou pra nós. Wind estava entretido tirando fotos. Eu só chorava.
Depois colocaram-na perto da gente e alguém se ofereceu pra tirar uma foto de nós 3.
Após isso, Wind foi embora junto com o médico que segurava a Su; foram apresentar o bebê à família.
Eu fiquei um tempão sendo costurada (o que deve ter levado uns 40 minutos, acho) e depois quase 2 horas me recuperando da anestesia numa sala isolada com outras mamães.
Depois vieram 3 enfermeiras e me levaram "correndo" pelas rampas da maternidade até o meu quarto.
Uma parte muito ruim foi quando me transferiram da maca pra minha cama...é uma maneira muito bruta de transportar uma pessoa recém-operada...será possível que não inventaram ainda uma maneira mais suave de fazer isso?
Eu ainda vou inventar uma "pá transportadora" de doentes. E também uma pá transportadora de bebês, do colo ao berço...
Como é que não pensaram nisso antes? rs
Bom, voltando ao relato...não acaba por aí.
A anestesia levou praticamente 24 horas pra sumir totalmente. Até lá, haja malabarismos pra amamentar sem conseguir virar o corpo e sem conseguir usar uma das mãos (espetada com o soro). E a coceira pelo corpo todo, efeito da anestesia?
Eu me arranhei tanto que meu nariz descascou completamente.
Isso tudo aconteceu no dia do nascimento da Su.
Hoje eu entendo que a cesárea foi mesmo uma providência divina para o meu caso. Quatro dias depois, a pediatra da Su recomendou que não saíssemos de casa com ela e que não recebêssemos visitas devido à epidemia de gripe suína na nossa cidade.
No mesmo período, um número grande de gestantes começou a morrer nos hospitais devido à gripe. E as gestantes começaram a ser consideradas grupo de risco. Isso tudo apenas alguns dias após o nascimento da Su.
Hospitais começaram a proibir visitas. Pessoas começaram a procurar álcool em gel desesperadamente, o que acarretou na falta deste produto no mercado. Igrejas cancelaram cultos e células para evitar aglomerações.
E dias antes da bomba estourar pra valer, eu pude chegar em casa com tranquilidade e acomodar a Su em seu novo lar. E ainda pude receber visitas por uns 3 dias.
Obrigada, Senhor, porque os teus caminhos são mais perfeitos que os meus caminhos e os teus pensamentos são mais altos que os meus pensamentos! (Isaías 55)

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